Travessia - Letícia Wierzchowski

Título: Travessia
Autora: Letícia Wierzchowski
Editora: Bertrand 
Trilogia Farroupilha - livro 3
Páginas: 546

“Do outro lado, o comandante do Andorinha também vê a mulher. No primeiro instante, pensa que é uma ilusão. Então, reconhece suas saias ajuntadas à altura dos quadris, os longos cabelos já despenteados pela refrega. Entre dois marinheiros prestes a perder a coragem, ela atira, fuzil no peito, vigorosa como uma Atena. Quem é esta criatura que despreza a morte com tamanha coragem? ” (p. 83)


Atenção: esta resenha contém spoilers do livro A casa das sete mulheres e Um farol no pampa.

Último livro da Trilogia Farroupilha, Travessia nos conta a linda e forte história de amor entre Giuseppe Garibaldi e Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais tarde conhecida como Anita Garibaldi. É neste livro que ficamos sabendo como eles se conheceram e quais foram seus papéis durante a Guerra dos Farrapos e a Guerra do Paraguai, sob a perspectiva ora de Ana, ora de Garibaldi.

Ana tinha apenas dezoito anos quando conheceu Garibaldi (com trinta e dois anos na época) e ambos foram arrebatados pelo amor à primeira vista. Diz a história que, quando Garibaldi a encontrou, segurou-a pela cintura e disse-lhe: “Tu deves ser minha. ”

Em suas memórias, Garibaldi fala sobre esse encontro: 

“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor. ”

Quando Garibaldi chegou a Laguna e logo em seguida conheceu Ana, ele ainda estava com o coração partido por ter sido obrigado a deixar Manuela. Ana, por sua vez, já era casada, mas com um homem com quem fora obrigada a se casar ainda aos 14 anos para fugir da fome. Quando ela encontra Garibaldi, apesar de estar casada legalmente, ela não faz ideia do paradeiro do marido, nem se está vivo ou morto, pois ele fugiu com os soldados imperiais com medo, assim que Garibaldi chegou com seus homens a Laguna.

Ao ver o famoso herói a sua frente, compartilhando dos mesmos sonhos dela, de liberdade e igualdade, Ana soube em seu coração que seu destino estava nas mãos daquele homem. No mesmo dia ela o acompanhou e não se separaram nunca mais, até o dia de sua morte, aos 27 anos de idade.

A cada dia que passava, Garibaldi via-se ainda mais apaixonado e enfeitiçado por essa mulher que lutava ao seu lado sem medo, recusando-se a separar-se dele mesmo quando estava grávida, indo para as batalhas de todo jeito, dizendo que para impedi-la, somente seria possível se a amarrassem e amordaçassem.

Durante as Guerras dos Farrapos e do Paraguai, Anita Garibaldi fez sua história e tornou-se uma das maiores e mais corajosas mulheres da história de nosso país. Sua coragem e sua determinação em meio à guerra causava surpresa e todo mundo, principalmente aos homens ao lado de quem ela bravamente lutava, na maioria das vezes com muito mais coragem.

Eu confesso que, no começo, tive muita raiva de Anita, pois eu já havia lido a história de Manuela e sabia que ela esperou Garibaldi voltar para buscá-la até o último dia de sua vida. No entanto, quanto mais eu lia sobre sua história e sobre tudo o que fez durante os anos em que lutara ao lado de Garibaldi, mais eu amolecia meu coração e me rendia à grande admiração que comecei a sentir por ela, que era apenas uma menina, mas já muito à frente de seu tempo.

Seus feitos foram tantos, que ela foi homenageada e considerada um exemplo de coragem e dedicação, tanto no Brasil quanto na Itália, e seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

O amor devotado de Garibaldi a essa mulher é tão forte e tão correspondido, que é impossível imaginá-los tendo suas vidas separadas.

Termino a Trilogia Farroupilha já morta de saudade dos personagens, querendo recomeçar a leitura logo em seguida, porque ainda não consigo me despedir deles. A trilogia de Letícia Wierzchowski foi escrita com tanta magnitude, que tornou-se uma das minhas trilogias favoritas da vida e, com toda a certeza, eu tornarei a ler daqui a algum tempo.


Leitura mais que recomendada!



3. Travessia




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