A volta do parafuso - Henry James

Título original: The turn of the screw
Autor: Henry James
Editora: Landmark
Páginas: 160
Conto


"Negra como a meia-noite em seu vestido escuro, sua beleza devastada e sua desgraça indizível, ela fitou-me por tempo suficiente para parecer afirmar que seu direito de sentar-se à minha mesa era tão legítimo quanto o meu de sentar-me à dela. Com efeito, enquanto duraram esses instantes, arrepiou-me a extraordinária sensação de que era eu a intrusa. Foi como num violento protesto a essa infâmia que, de fato tendo me dirigido a ela - "Sua mulher terrível e miserável!" -, pude ouvir-me prorromper num som que, através da porta aberta, ecoou pelo longo corredor e pela casa vazia. Ela voltou para mim como se houvesse me escutado, mas eu já me recompusera e desanuviara o ânimo. Não havia nada na sala no minuto seguinte, além da luz do sol e da compreensão de que eu precisava ficar."


A volta do parafuso é um conto de terror escrito por Henry James, publicado em 1989.

O conto começa com uma reunião de amigos que estão hospedados no campo, na noite de Natal, contando histórias de fantasmas. Porém, um dos membros do grupo, ao chegar sua vez de contar uma história, diz aos demais que ele prefere não contar nenhuma naquele momento, mas que mandará buscar em sua casa um diário, escrito por uma jovem que trabalhou para alguém de sua família no passado, que contém uma história real sobre fantasmas. Os demais do grupo concordam e assim esperam.

Alguns dias depois eles se reúnem novamente e o amigo, já de posse do diário, começa a ler o relato escrito em primeira pessoa.

A jovem – uma das filhas de um pároco – foi contratada como governanta por um rapaz solteiro e muito rico, que possuía uma casa no vilarejo de Bly e precisava de alguém para cuidar de seus sobrinhos, Miles e Flora, duas pobres crianças que ficaram órfãs e cuja responsabilidade passou para esse tio que não queria nem saber deles.

O mais curioso é que o rapaz, inclusive, deixa bem claro para a moça que ela terá total responsabilidade sobre as crianças e que ela deve resolver por si mesma todos os problemas que possam acontecer. Ele não quer saber de nada, não quer nem receber cartas relatando sobre como estão os dois. Ela será paga para cuidar deles enquanto puder, para que ele não precise mais se preocupar com eles de maneira nenhuma – não que se preocupasse. Enfim, feitos os devidos acertos com seu patrão, ela segue para Bly para conhecer seu novo lar e seus pupilos.

Ao chegar à propriedade, a jovem logo conhece Miles e Flora e acha ambos muito amáveis. Porém, uma coisa estranha acontece: depois de alguns dias, chega uma carta da escola onde Miles estudava – ele estava de férias –, dizendo que ele havia sido expulso da escola e que estava proibido de retornar. Tudo isso sem nenhuma explicação sobre o motivo da expulsão.

Como o tio das crianças a proibiu de entrar em contato e Miles é muito amável e sempre preocupado em agradá-la, ela decide guardar aquilo apenas entre ela e a outra empregada da casa, Mrs. Grose, e que no momento oportuno revelaria isso a Miles e lhe informaria que ela mesma cuidaria de sua educação.

O tempo vai passando e a governanta vai cada vez mais se apegando às crianças e ao lugar, mas, certa noite, enquanto caminhava pela propriedade, ela viu um homem estranho sobre uma das torres da casa, que, depois de olhá-la fixamente por alguns momentos, acabou desaparecendo. Mesmo achando estranho aquilo, ela acaba guardando o acontecido para si. No entanto, quando, em outra ocasião, acaba vendo o mesmo homem dentro da casa – e vendo desaparecer novamente –, ela procura por Mrs. Grose, conta o que houve e lhe descreve o homem.

Ao ouvir o relato da governanta, Mrs. Grove fica chocada e diz que o único homem com aquelas características que poderia estar na propriedade era Peter Quint, um antigo empregado, mas que era impossível que ele estivesse lá, pois ele já havia morrido há algum tempo. As duas combinam de manter isso em segredo e a governanta diz que vai investigar o que está havendo.

Pouco tempo depois, enquanto passeava com Flora perto do lago, a governanta vê outra figura misteriosa, mas agora era uma mulher, olhando fixamente para Flora, parecendo chamar sua atenção, mas a menina parece ignorá-la.

Procurando novamente por Mrs. Grose, a governanta descobre que a mulher foi a governanta anterior a ela, Srta. Jessel, e que também já havia morrido. Com isso, ela começa a pensar sobre o ocorrido e não consegue saber se Flora ignorava a mulher porque não a via, ou porque já estava tão acostumada a ela que não se importava mais.

A partir daí a governanta começa a suspeitar de que as crianças podem ver e até se comunicar com esses espíritos, principalmente porque, toda vez que ela os vê – o que vem se tornando muito frequente –, eles estão rondando seus protegidos.

Decidida a salvar seus pupilos, a governanta começa a investigar tudo e tenta, a todo custo, descobrir se eles são capazes de ver esses espíritos e se comunicar com eles.


É claro que não vou contar o final do conto, até porque ele fica meio em aberto para que o leitor entenda esse fim como achar melhor.

À primeira vista, A Volta do Parafuso é um conto de terror normal sobre casas antigas e aparições sombrias, mas o conto acaba sendo bem mais que isso, o que o torna muito legal. Primeiro, porque percebemos uma histeria crescente na governanta, que parece estar obcecada com a ideia de que as crianças têm alguma ligação com os espíritos que rondam a casa.

As crianças, Miles em particular, são bem estranhas. Fazem absolutamente tudo para agradar a governanta e são tão amáveis que nem parecem crianças de verdade. Miles, apesar de ter apenas 9 anos, é tão encantador e manipulador que parece muito mais velho.

A governanta tem seus vinte e poucos anos, está presa numa propriedade rural, tendo apenas duas crianças e uma senhora por companhia, e, devemos lembrar, é filha de um pároco, o que nos dá a entender que ela tem suas crenças religiosas. Acho que tudo isso a torna uma pessoa sugestionável e que se impressiona com facilidade.

A verdade é que não dá pra saber se as crianças realmente viam os espíritos ou se apenas a governanta conseguia vê-los. E há ainda a hipótese de que ela nunca viu espírito nenhum e que teria enlouquecido. Daí vem o nome do conto, A Volta do Parafuso. Essa expressão – The turn of the screw – é usada, em inglês, para se referir à ação de aumentar a pressão sobre alguém que já se encontra em posição aflitiva. E isso é bem claro em duas partes distintas: primeiro, a pressão sobre a própria governanta, que vai cada vez ficando mais histérica a respeito dos tais espíritos e, segundo, porque ela passa a pressionar as crianças loucamente, querendo que elas confessem de todo jeito, que se comunicam com os espíritos. E ela fica tão alucinada com tudo isso que passa acreditar que apenas ela pode salvá-los, tanto que ela mesma chega a afirmar que, se eles admitirem que veem os espíritos, eles serão perdoados e suas almas serão salvas.

Várias são as interpretações que podemos ter sobre esse conto, inclusive trazendo à tona sutilmente o assunto pedofilia, que talvez tenha acontecido, não por parte da governanta, mas dos antigos empregados da casa que agora são os espíritos.

Henry James escreveu-o de maneira tão intrigante que, como eu já disse, cada leitor poderá entender o final do conto de uma maneira.

Enfim, se eu falar mais do que isso – o que já foi muito –, vou acabar dando spoilers. O conto pode ser encontrado facilmente na internet, então, quem se interessar, pode procurar pra ler. Depois me contem o que acharam, qual o final que vocês entenderam na história.

Mais do que uma história de fantasmas, é o terror psicológico que assusta mais. Eu recomendo a leitura! 






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