Título original: Speak
Autora: Laurie Halse Anderson
Editora: Valentina
Páginas: 248
Sinopse: “Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra - insultos e deboches, sim - ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir. Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?
Houve um tempo – não muito distante – em que
Melinda era uma adolescente brincalhona, ótima aluna, tinha amigos, era feliz e
se dava bem com todos. Mas então, um dia, numa festa, algo aconteceu e tudo
mudou.
Um novo ano escolar – o primeiro do ensino médio –
começava para Melinda e ela não era mais a menina de quem todos gostavam. Agora
ela era a esquisita, a louca, a aberração. A pária da escola. Suas amizades não
existiam mais, ela estava só. Tudo porque, numa festa com o pessoal da escola,
ela havia chamado a polícia. Mas ninguém nunca quis saber o motivo. E agora,
ninguém queria mais saber dela.
Ela vivia sozinha e calada. Suas notas começaram a despencar. Os professores perceberam isso. Os ex-amigos
perceberam. Seus pais também. Mas ninguém se importou. Ninguém quis saber o que
houve, qual foi o motivo da mudança.
“A coelhinha foge em disparada, deixando rastros ligeiros na neve. Fugir fugir fugir. Por que é que não corri desse jeito quando era uma garota-falante-não-despedaçada?”
A história se passa no decorrer do ano letivo de
Melinda. Ela tornou-se invisível aos olhos de todos, a não ser quando queriam humilhá-la de alguma maneira. E ela nunca diz nada.
Em casa, seus pais estão sempre ausentes. E quando estão em casa, estão
sempre brigando. Nenhum deles tem tempo para ela. Antes, preferem fingir que o que está acontecendo com ela é
normal, que todo adolescente tem suas fases estranhas e deixam pra lá. Eles não
têm tempo pra isso.
“Faço meu dever e mostro pra eles, como uma boa menina. Quando me mandam deitar, escrevo um bilhete de fugitiva e o deixo na minha mesa. Minha mãe me encontra dormindo no closet do quarto. Daí me entrega um travesseiro de novo e fecha a porta. (...) Abro um clipe e passo na parte interna do meu pulso esquerdo. É patético. (...) Provoco rachaduras de sangue, talhando linha após linha até parar de doer.
Minha mãe vê meu pulso no café da manhã. Mamãe: - Não tenho tempo para isso, Melinda. Eu: “
A dor que dilacera Melinda nos entristece e o grito de socorro sufocado por
seu silêncio é extremamente angustiante.
Sua história mostra o quanto o ambiente escolar pode ser cruel e como
alunos e professores acham que dá menos trabalho fechar os olhos e fazer de
conta que nada está acontecendo. Afinal, crianças problemáticas são
responsabilidade de seus pais, não deles.
“Eu adoraria ficar ali batendo papo, mas os meus pés não me deixam. Vou andando para casa, em vez de pegar o ônibus. Destranco a porta da frente e subo direto até meu quarto, atravesso o tapete e vou para o meu closet sem nem tirar a mochila. Quando me fecho, enterro o rosto nas roupas penduradas no lado esquerdo, roupas que não me servem há anos. Enfio aqueles tecidos velhos na boca e grito até só restar silêncio nas minhas entranhas.”
Apesar de não falar com ninguém em casa ou na escola, Melinda tem uma
cabeça barulhenta, repleta de pensamentos e de opiniões. Mesmo massacrada por
suas dores e seus demônios, ela ainda conserva um certo bom humor e uma boa
dose de sarcasmo. Me peguei rindo muitas vezes ao ler o que ela pensava sobre
determinadas pessoas ou situações. Ela é inteligente e sagaz, mas já não
acredita mais em si mesma. Afinal, se ninguém mais acredita, por que ela deveria?
“Não
é possível que possam me castigar por não falar. Superinjusto. O que é que
sabem sobre mim? O que é que sabem sobre o que se passa na minha cabeça?
Relâmpagos, crianças chorando. Atropelada por uma avalanche, morta de
preocupação, contorcendo-me sob o peso da dúvida e da culpa. Medo.”
Fale! não é um livro de ficção. É baseado na vida
de milhares de meninas e meninos que sofrem todo tipo de perseguição na escola
e na vida. Crianças que são ignoradas em casa por pais negligentes e que
refletem isso na escola. Se fecham, não interagem. E aí tudo piora, porque isso
os torna esquisitos, loucos. O alvo perfeito para chacotas e para humilhações
vindas dos mais fortes, dos superiores, daqueles que querem mostrar o quanto
são fortes por bater ou humilhar o que é mais fraco.
Nós vemos histórias como essas todos os dias, no
mundo inteiro. Crianças e adolescentes que se cortam porque a dor física faz
com que se esqueçam da dor psicológica, ainda que por pouco tempo. Crianças que
se calam, que se isolam. E o mais triste: adultos que não enxergam essas
crianças. Que não querem saber o que está errado.
Fale! é um grito de alerta para todos. É um grito
de “Você não está sozinho! Fale!” para essas crianças. Um grito de “Ei,
professor! Não consegue ver que seu aluno tem problemas porque certamente algo não
está bem com ele?”. Um grito de “Pai, mãe, pelo amor de Deus, não percebem que
seus filhos estão desesperados por sua atenção e precisam que vocês se importem
com eles?”.
Mais que um grito de alerta, Fale! é um pedido de
socorro. Para essas crianças e para a nossa sociedade.
Um livro emocionante que deveria ser lido e
trabalhado em todas as escolas, sem sombra de dúvida.
O que eu não sabia, só soube depois de ler o livro, é que já tem um filme sobre essa história (o livro foi escrito há 10 anos), chamado O Silêncio de Melinda, e, segundo a autora, está bem fiel ao livro. Agora vou correr assistir. Vejam abaixo o trailer:
O que eu não sabia, só soube depois de ler o livro, é que já tem um filme sobre essa história (o livro foi escrito há 10 anos), chamado O Silêncio de Melinda, e, segundo a autora, está bem fiel ao livro. Agora vou correr assistir. Vejam abaixo o trailer:
A Editora Valentina está de parabéns por trazer um
livro tão marcante ao nosso alcance.
Profundo, reflexivo e angustiante. Mas envolvente.
Recomendadíssimo!
6 comentários
Como você mesma disse na minha resenha, a gente já comentou horrores sobre esse livro e como a gente ficou encantada com ele. =)
Só tenho a assinar embaixo na sua resenha.
E pelo trailer, o filme é totalmente fiel, porque eu reconheci todas as cenas.
Beijos.
Olá!
Poxa não conhecia o livro somente sabia do filme, o qual ainda não vi também, mas a história realmente parece atual e contextualizada com o tipo de coisas que muitos vivem nas escolas. Hoje mais do que nunca as crianças e adolescentes são constantemente julgadas pelo que parecem e não que são, ou se estão de acordo com as normais sociais ou não. Acho um ótimo tema para ser discutido em literatura em sala de aula, em qualquer lugar.
Seguindo o blog!
Abraços
Melissa
De Coisas por Aí
Eu amei o livro, achei a história muito bem feita, a autora conseguiu, sem nenhuma alegoria, chamar a atenção. Também não sabia do filme e depois que li o livro corri para assistir, o resultado foram muitas lágrimas. Bjos!
As resenhas que leio desse livro são todas boas, e em todas o que sinto sobre o livro é que ele é bem intenso...
Oi Tratante!
Cada vez mais fico surpresa ao saber que os filmes que assisto são baseados em livros.
Já tinha lido sua resenha, mas não tinha visto o trailer que tu postou aqui. E o que descubro: A MYS JÁ ASSISTIU O FILME ¬¬ . Sim, assisti esse filme já faz tempo e confesso que tenho o hábito de assistir filmes desse gênero. Apenas não sabia que se tratava desse livro FALE!.
Bem, como li seu comentário que foi bem adaptado, isso quer dizer, que de certa forma já sei tudo o que se passa nesse livro. Pode faltar um detalhe ou outro, todavia o essencial já sei =)
Chegando a conclusão que conheço a maioria dos livros através do filmes, mesmo que na sua maioria, não seja bem adaptados ou até mesmo modificados.
Bj =)
Oi, San.
Acho importante explorarem esse tipo de tema, mas eu não sou muito fã de livros desse tipo! Me canso um pouco desse tipo de discussão e acabo me irritando com o livro!! hehehe
Beijos
Camis
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