Vagabundeando pelo Facebook, deparei-me com o texto abaixo e pensei: Por que não divulgar no blog? Afinal, é pra isso que ele existe, né não?
O texto é fabuloso, muito bem escrito e verdadeiro em cada palavra. Espero que gostem tanto quanto eu gostei. :)
LER DEVIA SER
PROIBIDO
"A pensar fundo na questão, eu
diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal
às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes
de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à
loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo
social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary.
O primeiro, coitado, de tanto ler
aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a
crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao
pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para
fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança
que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do
mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a
leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem
a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram.
Sem a leitura, ainda, estaria mais
afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem
procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a
extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o
conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é
apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada
mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode
fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente,
ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a
levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o
sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos
fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que
a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há
horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens.
Estrelas jamais percebidas. É preciso
desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas
realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas.
Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto
pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes
estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e
civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência.
Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável
em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar
seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo
administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma
verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os
seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem
suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os
instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho.
Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender
formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as
filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro
para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos
incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlim-pim-pim, a máquina do
tempo.
Para o homem que lê, não há
fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a
leitura?
É preciso compreender que ler para se
enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido
apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais.
Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara,
não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um
poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar,
o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é
inútil.
Além disso, a leitura promove a
comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é
obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o
próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história
a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro.
Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente
humano."
8 comentários
Caramba! esse texto é lindo, tocou lá no fundo ...
Disse tudo!
Não é a toa que já existiu o Index e a queima de livros proibidos.
Beijo.
Boa noite Sandra,
Que texto maravilhoso hein...sábias palavras e deve ser propagado...parabéns....abçs.
http://devoradordeletras.blogspot.com.br/
Esse texto é realmente incrível, muito criativo! :D bjs
www.luanamachado.com
Sem mais comentários, o texto já diz tudo...perfeito.
Já tinha lido esse texto por aí, mas tive que ler de novo, porque ele é muito, muito bom! Tipo, fala tudo o que a leitura pode fazer com alguém, e isso é só o começo :)
Beijos!
Oi flor,
Estava passeando pelos blogs e encontrei o seu que por sinal é lindo hein, claro que vou segui para acompanhar as novidades :D e sempre que possível vou passa por aqui ^^
Nossa que texto hein, super bacana, realmente ler deveria ser proibido, pois leve o homem a uma viagem de imaginação profunda.
Beijos
http://marifriend.blogspot.com.br/
Texto perfeito. É isso mesmo, a leitura acorda, e o povo prefere ficar dormindo.
Beijos!
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