Título original: A Vineyard in Tuscany
Autor: Ferenc Máté
Páginas: 270
Sinopse: Achar a casa dos seus sonhos na Toscana, com um vinhedo no quintal, é como procurar cogumelos porcini na floresta: é preciso trabalhar com amor. Tais tarefas necessitam de paciência, discernimento, determinação e um senso de humor indestrutível. Mas a recompensa é grande, pois o futuro lar da família Máté e a sua propriedade vinícola estão situados em um cenário deslumbrante, cercados por uma comunidade calorosa e cordial. Em Montalcino, a zona vinícola de maior prestígio da Itália, eles restauram um mosteiro do século XIII, localizado entre duas colinas, com sessenta acres de florestas, olivais e vinhedos. Lá, eles plantam quinze acres de videiras, constroem a sua vinícola, e aprendem com seu vizinho Angelo Gaja, um experiente vinicultor, os segredos de como cultivar as melhores uvas e fazer vinhos soberbos. Como resultado, já nos primeiros anos, os vinhos Máté recebem reconhecimento internacional. Prepare-se para conhecer uma história cativante e inspiradora, de como dois sonhadores perseveraram na Toscana, desvendando os bastidores de uma propriedade vinícola familiar.
Quando eu escolhi esse livro para que a editora me enviasse, eu acreditava que era um romance, estava toda empolgada. Porém, quando ele chegou às minhas mãos, para minha surpresa, vi que se tratava de uma obra autobiográfica. Confesso que desanimei um pouco, mas nem tive chance de “curtir” a decepção, quando, já nas primeiras páginas, fui cativada por uma escrita muito pessoal e deliciosa.
"...Há certas coisas na vida que as mulheres não conseguem entender. O que elas parecem entender - e muito bem, aliás - é como utilizar as palavras como se fossem facas. É por isso que as mulheres jamais deflagraram guerras. Elas não precisam. Com poucas palavras elas são capazes de destroçar um adversário, mais rápido do que poderíamos fatiar um salame. E elas fazem isso sem despender o menor esforço - frequentemente, com um sorriso nos lábios..."
Ferenc Máté é um escritor de nacionalidade Húngara, que morou em vários lugares antes de se mudar com sua mulher, Candace, e seu filho Peter para a Toscana. Ele queria paz, tranquilidade e inspiração para escrever seus livros. Logo foram adotados pela família vizinha, os Paolucci, e, desde então, tornaram-se legitimamente toscanos de coração.
Assim, como todo toscano que se preza, Máté começou a sonhar com seu próprio vinhedo e teve a (in)feliz ideia de juntar esse sonho a um outro, muito antigo: reconstruir uma ruína. E então começa a sua caçada à ruína perfeita, indo parar nos lugares mais distantes e vivendo as mais insólitas aventuras.
“Nada é mais embaraçoso do que assistir a três carneiros, lado a lado, puxando seu carro esporte por uma corda”.
Depois de meses à procura do lugar perfeito, ele encontrou um antigo mosteiro em ruínas, completamente acabado, com alguns acres inclusos na propriedade que, segundo os grandes conhecedores de vinho da região, era o lugar perfeito para se cultivar um vinhedo e tirar dali garrafas e mais garrafas de um vinho de ótima qualidade.
Ele não teve dúvidas: vendeu a casa onde morava com sua família e comprou a propriedade. E aí têm início as melhores e mais engraçadas histórias do livro. Num período de 18 meses, Máté teve um trabalho imenso para restaurar o velho mosteiro e transformá-lo numa casa e, ainda por cima, tornar “plantáveis” os acres que rodeavam sua propriedade.
Este livro é um relato apaixonado e muito bem humorado sobre a realização de um sonho e uma lição para aqueles que também sonham. A escrita é ótima, tão rica em detalhes – sem se tornar cansativa – que somos capazes de enxergar cada cenário da Toscana através das descrições de Máté. E, claro, houve várias situações que me fizeram gargalhar enquanto lia. Abaixo, algumas delas:
- A primeira vez em que ele e a esposa tentaram entornar o vinho:
“Fazer uma sifonagem é simples: no caso do vinho, tudo o que você tem que fazer é abraçar-se ao garrafão, agarrar suas duas alças de palha trançada e erguê-lo até conseguir colocá-lo sobre um banco alto. Dê um descanso à sua hérnia e, então, posicione o barril no chão, próximo do banco. Insira uma das extremidades de um tubo flexível limpo no garrafão e ponha outra extremidade em sua boca. Sugue com força suficiente para que suas bochechas, pulmões e outros órgãos pareçam estar a ponto de implodir. Então, sente-se e pergunte-se por que Deus haveria de ter escolhido justamente este dia para anular a lei da gravidade – uma vez que você pode ver o vinho através do tubo, mas, por alguma Madonna puttana razão, ele não flui para baixo. Em seguida, sua cara-metade sugere que você levante só um pouquinho a extremidade do tubo inserida no garrafão, porque ela pode haver-se grudado ao fundo. Você responde com um risinho sarcástico; mas, quando ela não estiver olhando, puxa um pouquinho o tubo do garrafão, volta a inserir a outra extremidade em sua boca e suga com força sobre-humana – e vê o vinho esguichar pelo tubo, pelo seu nariz e pelos seus ouvidos. A partir deste ponto, você pega o jeito de entornar o vinho.”
- Quando ele resolveu limpar a propriedade sozinho, com as próprias mãos:
“Despedi-me de minha família e embrenhei-me no mato. Cortei com a tesoura, cavei com a pá, varri com o ancinho e ceifei com a foice. Após uma hora, pingando suor, constatei que parecia haver mais mato do que antes. Candace trouxe-me um copo de vinho, esperou que eu bebesse um pouco e, então, sugeriu a utilização de uma ferramenta alternativa: um trator de lâmina. Olhei-a com um ar de severa reprovação. Afinal, após uma batalha de dois dias, consegui limpar e reerguer exatamente quatro videiras meio mortas. Uma vez que ainda houvesse mais meio acre para trabalhar, calculei que levaria o restante dos meus dias de vida para dar toda a tarefa por concluída. Foi então que revelei a Candace minha brilhante ideia, para resolver o problema: empregar um trator de lâmina”.
- Quando a seca tomou conta da região e ele achou que fosse perder todas as suas milhares mudas de videira:
“Eu reguei por dias e semanas a fio; até não conseguir lembrar-me mais da minha vida antes de começar a regar. Eu reguei cantarolando, eu reguei rezando, eu reguei em silêncio e eu reguei em agonia. Após três semanas, os gravetos pareciam mais mortos que antes.”
Enfim, pra quem busca uma leitura leve e divertida, diferente das que estão em alta hoje em dia, eu recomendo este livro que conta sobre o surgimento do famoso vinho Syrah de Máté, numa narrativa cativante e que nos traz, ainda, nas páginas finais, várias receitas da cozinha toscana.
Livro perfeito!
2 comentários
Oie, tudo bem?
A resenha ficou muito boa, mas não tenho interesse em lê-lo. Eu gosto mesmo é de romance, quem sabe mais a frente.
Beijos
Luciana
Quando vi o título do livro tbm pensei ser um romance, mas vi agora que me enganei igual a vc, UHAUSHUAHS... Quando vi que era autobiográfico, tbm fiquei meio desconfiada, porém pela sua resenha parece ser um livro muito bom.
Fiquei curiosa para ler.
Além do mais, sou apaixonada pela Itália e tudo que tem alguma relação com aquele país me interessa bastante. ^^
Beijos.
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