RENASCIMENTO: A Lenda do Judeu Errante - Sérgio Pereira Couto

Editora Giz. 221p.

Classificação: 

Primeiro, a lenda:

O Judeu Errante, também chamado Ahsverus ou Ahsuerus, é um personagem mítico, que faz parte das tradições orais cristãs. Tratar-se-ia de um contemporâneo de Jesus Cristo, habitante de Jerusalém. Lá, trabalhava, numa oficina de sapateiro, que ficava numa das ruas por onde os condenados à morte por crucificação passavam carregando suas cruzes. Na Sexta-feira da Paixão, Jesus Cristo, passando por aquele mesmo caminho carregando sua cruz, foi importunado com ironias, ou agredido verbal ou fisicamente, pelo coureiro Ahsverus. Jesus, então, o teria amaldiçoado, condenando-o a vagar pelo mundo, sem nunca morrer, até a sua volta, no fim dos tempos. (fonte: Wikipédia)

Roger Briggs é um empresário de 30 anos, dono de uma loja virtual, a Multimarca.com, e necessita de um sócio para fazer prosperar seu empreendimento, fundado com o dinheiro da indenização paga pela empresa aérea cujo avião foi seqüestrado no atentado de 11 de Setembro para fins terroristas, causando a morte de seus pais, que viajavam naquele voo.

Num belo dia, Roger é procurado pelo Dr. Varshae, um renomado pesquisador do sono, já com muitos livros publicados, que lhe propõe sociedade e lhe oferece o investimento de 20 milhões de dólares. Para que fechem o contrato, Varshae tem uma única condição: que Roger viaje com ele para um fim de semana na Itália, levando também a sua noiva – que, aliás, Roger não havia mencionado que tinha uma.

Apesar de achar Varshae um homem muito estranho – com aparência de muito velho, usando uma estranhíssima bengala com a cabeça de um chacal -, Roger fica aceita a condição e, eufórico, vai procurar a noiva para dar a notícia.

Elizabeth Klinger, noiva de Roger, mora com sua irmã, Emile. Ambas também perderam os pais num atentado terrorista, mas em Londres, em 2004. Por isso, decidiram sair da Europa e mudar-se para o Brasil, tentado deixar o passado para trás. As duas são muito estudiosas, formadas em História e Biblioteconomia, e têm fascínio por mitologias, lendas e artes, principalmente às que datam da época do Renascimento.

Emile, dois anos mais nova que Elizabeth, vem ultimamente se interessando muito pela filosofia espírita e a reencarnação, lendo e pesquisando bastante a respeito.

Quando Roger lhes conta sobre o estranhíssimo Varshae e sua proposta, as irmãs ficam animadíssimas, pois terão a chance de conhecer o berço do Renascimento.

Porém, na semana em que acontecerá a viagem, Emile e Elizabeth são surpreendidas por visões estranhas, envolvendo Roger e o Dr. Varshae. Emile também acaba por conhecer o atraente frei Edgar Avrill, que, coincidentemente – ou não -, também está de viagem marcada para Roma, onde irá fazer uma palestra sobre a lenda do judeu errante, bem no dia em que as irmãs e Roger estarão na mesma cidade.

E quanto mais o tempo passa, mais estranhas as coisas ficam e mais mistérios surgem.

Esse é um livro que, à primeira vista, alguns podem torcer o nariz por ter envolvido em sua trama o assunto sobre reencarnação. Mas não se deixem guiar por esse pensamento. É apenas um livro de ficção que usa determinado assunto como mote, assim como Dan Brown, em O Símbolo Perdido, fala sobre a Maçonaria.

Enfim, Renascimento é um livro riquíssimo em História, tanto da arte como do mundo, que nos enche os olhos com explicações e informações muito bem detalhadas pelo autor. Mistérios, perseguições, mitologias e muita ação fazem parte desse livro que eu considerei uma grande descoberta. Comecei a ler, achando que o livro falaria sobre um assunto e o rumo tomado na história foi totalmente outro, mas me surpreendeu muito e fiquei feliz com isso. Numa trama muito bem escrita e desenvolvida, presente e passado se encontram para um surpreendente acerto de contas. E o final é de arrepiar! Eu acredito que até deveria ter continuação.

Na minha opinião, Sérgio Pereira Couto não deixou absolutamente nada a desejar em comparação aos grandes escritores estrangeiros. Tenho muito orgulho de dizer que nossa literatura vem crescendo com uma ótima “safra” de bons escritores. 


Gosto muito de livros que me fazem pesquisar e buscar novas informações e esse livro fez isso. Pesquisei tanto sobre o Renascimento quanto sobre a lenda. E adorei!
Pra quem gosta de Dan Brown, vai gostar desse livro.

Eu sei que este post já ficou enorme, mas não posso deixar de colocar aqui o poema de Castro Alves que vem logo no início do livro:

SABES QUEM foi Ahasverus?... — o precito,
O mísero Judeu, que tinha escrito
Na fronte o selo atroz! 
Eterno viajor de eterna senda...

Espantado a fugir de tenda em tenda,
Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro
Não teve onde... pousar.

Com a mão vazia — viu a terra cheia.
O deserto negou-lhe — o grão de areia,
A gota d'água rejeitou-lhe o mar.

Da Ásia as florestas — lhe negaram sombra 
A savana sem fim — negou-lhe alfombra.
O chão negou-lhe o pó! ...
Tabas, serralhos, tendas e solares...
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares
E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,
E não pôde entre tantas populaças
Beijar uma só mão...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas,
Desde a inglesa à crioula das Antilhas
Não teve um coração! ...

E caminhou! ... E as tribos se afastavam
E as mulheres tremendo murmuravam
Com respeito e pavor.
Ai! Fazia tremer do vale à serra...
ele que só pedia sobre a terra
— Silêncio, paz e amor! —

No entanto à noite, se o Hebreu passava,
Um murmúrio de inveja se elevava,
Desde a flor da campina ao colibri.
"Ele não morre", a multidão dizia...
E o precito consigo respondia:
— "Ai! mas nunca vivi!" —

O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário
Sem termo do existir.

Invejado! a invejar os invejosos.
Vendo a sombra dos álamos frondosos...
E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede uma mão de amigo — dão-lhe palmas:
Pede um beijo de amor — e as outras almas
Fogem pasmas de si.

E o mísero de glória em glória corre...
Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Responde o desgraçado: — "Eu não vivi! ..."

(Castro Alves – Ahasverus e o Gênio)


Fantástico!
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